Os primórdios do bairro Gutierrez remontam à época na qual Belo Horizonte, em determinadas regiões, se revelava ainda um território rural. Uma das fazendas existentes, mais para a porção oeste da cidade, foi adquirida pelo espanhol Leonardo Gutierrez de Bardon y Bardon, nos idos de 1900, três anos depois da inauguração da capital mineira. O engenheiro chegou à então novíssima cidade a convite de Aarão Reis, chefe da Comissão Construtora da Nova Capital. A missão dele, a exemplo dos demais engenheiros que chegavam, era a de auxiliar na formatação e construção da futura metrópole.
No final da década de 1920, as terras de Leonardo Gutierrez, de aproximadamente 200 hectares, passaram a ser loteadas. Assim começava a brotar, logo após a avenida do Contorno, importantes e tradicionais bairros, como Barroca, Grajaú e Jardim América, além do próprio Gutierrez. A exemplo do que aconteceu com demais regiões da capital, o Gutierrez só começou a despertar interesse da população e de empreendedores a partir da canalização de córregos e abertura de vias. No caso, o córrego dos Pintos, que hoje passa sob a avenida Francisco Sá, um dos corredores viários mais importantes da região. As obras de canalização terminaram no fim da década de 1960. É importante lembrar que, se por um lado as intervenções trouxeram moradores e comerciantes para o bairro, por outro provocariam, mais tarde, dor de cabeça para residentes e visitantes. Quando chove forte por ali, é enchente na certa, já que a galeria do córrego acaba por não suportar a grande quantidade de água. O curso d’água deságua no ribeirão Arrudas.
A construção da praça Leonardo Gutierrez, no antigo brejo, também ajudou na ocupação do bairro. José Vicente Filho, de 73 anos, é proprietário da banca de jornais e revistas da praça, há 42 anos. "Quando cheguei aqui, a igreja estava acabando de ser construída. Havia pouquíssimos estabelecimentos comerciais. Perto da banca, havia apenas uma padaria", diz ele. Zé Vicente, como é mais conhecido, conta que, antes de adquirir a banca, vendia frutas nos arredores. A banca, conta Zé, foi comprada de um português que se chamava Roberto. Devido a sua altura, Roberto era conhecido como o Grande. Zé Vicente acabou herdando também o apelido. Logo ele, que mede 1,65 metro de altura. Hoje, Zé é uma das referências do bairro. "Tento conciliar a clientela com a amizade. E está dando certo", afirma o senhor, que não pretende deixar o ramo e muito menos a praça tão cedo.
É também na praça que se localiza a paróquia Santíssima Trindade. Apesar de ter sido criada em 1960, a edificação só foi inaugurada em 1979. O terreno foi cedido por Willer de Magalhães Pinto, sua mulher, Olga Gutierrez Pinto, e por Aurora Gutierrez Zander. Olga e Aurora eram filhas de Leonardo Gutierrez. O patriarca da tradicional família teve ainda Plácido, Leonardo Júnior e Miguel como filhos. Flávio Gutierrez, um dos fundadores do Grupo Andrade Gutierrez, era filho de Miguel.